Visão

Dentre as diversas medidas de segurança patrimonial, a vigilância que utiliza câmeras em circuito fechado de televisão é uma das mais comuns em museus e centros culturais. Essa medida não está apenas circunscrita a este campo, mas ao amplo espectro de medidas de segurança patrimonial privadas e públicas, em variadas áreas. Um exemplo quase onipresente disso é a clássica placa de advertência “Sorria! Você está sendo filmado.”

Um dos pressupostos para a adoção dessa medida de segurança é a necessidade de ter uma visão ampla e total do espaço a ser salvaguardado. Pois a atuação da vigilância patrimonial se dá de maneira preventiva e sistêmica na proteção e preservação dos ambientes. Temos esse aparato tecnológico de vigilância através de câmeras, mas também a pessoa que interpreta esse dado e atua diretamente na sua instrumentalização, o segurança; que pode estar fisicamente no espaço que está sendo filmado ou em outro espaço, que recebe as imagens do lugar salvaguardado.

Assim, é através da visão e observação ostensiva que a segurança patrimonial atua preventivamente. Podemos aqui trazer o conceito de panóptico e a leitura de Michel Foucault. De maneira sintética, o panóptico é uma estrutura arquitetônica de vigilância que possibilita a visão de toda uma região que necessita de observação utilizando o mínimo de recursos humanos. No exemplo clássico, um único guarda consegue observar todos os prisioneiros, sem que eles saibam se isso acontece de fato. Foucault irá ler que essa estrutura produz um estado importante na subjetividade das pessoas, que é a sensação constante de vigilância e a perpetuação do funcionamento do poder. Para além da ação em si, ela provoca nas pessoas um estado de vigilância permanente, mesmo se a estrutura não estiver mais em funcionamento - “Sorria! Você está sendo filmado.”

Visão deseja atuar assim. A relação direta entre a câmera e os olhos do segurança: colocar essas duas figuras de vigilância apontadas uma para outra. Dois aparatos ostensivos de observação. A partir desse confronto, será produzida uma imagem em movimento, os olhos do segurança captados pela câmera. Essa imagem será transmitida para uma grande televisão instalada no espaço expositivo. O público desse lugar será defrontado por dois grandes olhos. Dois olhos que podem estar observando, ou não. É possível instaurar esse estado de vigilância apenas com a transmissão do olhar? Pois é importante lembrar que esse olhar, transmitido, será sempre um olhar do passado, encarado pelo público do presente, devido ao delay da captação e transmissão da câmera.

Um segurança sentado. De frente para ele, uma câmera filmando os seus olhos. Uma câmera ligada em uma grande televisão, próxima a ele. A filmagem da câmera transmitida para a televisão, exibindo seus olhos vigilantes.

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