360º

Quantas e quantas vezes nos sentimos preocupados com o que nos cerca, não é verdade? Podemos observar o horizonte, virar nosso pescoço para os lados, mas sempre haverá aquele espaço que nossa vista não consegue observar enquanto atentos estamos em outro ângulo de visão: o ponto cego. Do mesmo modo, nossos seguranças também se veem impedidos por essas limitações. Quer estejam atentos às obras antes de serem tocadas, quer rondem periodicamente seu local de guarda, sempre há a possibilidade de que escape algo de suas vistas, sobretudo em ambientes amplos, em grandes exposições, nos locais de amplo acesso ao público. Nestes, na ausência de profissionais qualificados, na falta de pessoal, no cotidiano de precarização do trabalho de base em instituições de arte, o pior sempre pode acontecer. E é o vigilante que, muitas vezes sozinho ali, se faz porta de entrada para o sinistro ocorrer à propriedade e ao ambiente expositivo. Sem olhos na nuca, ele pouco poderá contra o que não pôde observar, apequenado e sozinho em uma imensa galeria, com tantos objetos caros à instituição e que demandam sua cautela.

Sabemos também que os sistemas de circuito interno de televisão pouco podem contra a rapidez com que ocorrem os atos de transgressão contra obras de arte. Nossos profissionais atentos podem rapidamente identificar pelas câmeras uma subversão ocorrendo. Mas até repassarem a informação a um dos vigilantes no local, até que este alcance e impeça o suposto visitante, o pior já pode ter acontecido. Então percebe-se que espaços amplos com muitas obras de arte e a ausência do número ideal de seguranças ali, junto à somente uma pessoa mal-intencionada, já são suficientes para produzir problemas seríssimos. E isso mesmo com aparatos tecnológicos dos mais diversos; sistemas de comunicação por rádio, alarmes e circuitos de câmeras operadas por uma central, por exemplo.

Por isso oferecemos aqui hoje um serviço que irá equilibrar essa balança. Sabendo que os problemas orçamentários das instituições são frequentes, a despeito de sua tenaz capacidade em manterem abertas exposições cada vez maiores, reconhecemos que nossos exímios trabalhadores podem oferecer novamente - e sempre poderão oferecer para nossos clientes - uma solução para seus problemas, ainda que precária a contratação de mais vigilantes. Será preciso remanejar apenas um de nossos trabalhadores à área de risco para que, então, possamos oferecer 360º: serviço em que nossos seguranças permanecerão um de costas para o outro, de modo que seus olhares nunca se cruzarão, mas observarão tudo aquilo que o outro não poderá ver. Esse é o modo que vimos a possibilidade de lhes investir mais segurança pessoal - pela presença invisível de um outro deles em sua retaguarda - ao mesmo tempo em que eles mesmos, por isso, serão de uma varredura constante de seu local de salvaguarda; de um monitoramento total a partir da intersecção entre eles como o eixo central e intangível de observação do mundo.

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